Ontem, pensei nas marcas da idade. Cruéis, se considerarmos a ditadura do corpo que impera em nossa sociedade. Fantásticas, se avaliarmos todas as experiências pelas quais passamos durante esse tempo de vida.
Por que essas conjeturas? Ora... entrou um Adônis no ônibus. Lindo, moreno, com, no máximo, 30 anos. E eu apreciei. E o olhei com os meus olhos de menina, embora olhos de mulher madura. Menina que sempre soube apreciar um rosto bonito. (Epa... Não percebi que o tempo passou e que essa menina hoje usa um corpo que a sociedade “tacha” de velho, e que me foi presenteado pela idade.. Mas os meus olhos jovens olharam para um jovem.) Grande ironia, os olhos jovens do jovem olharam para uma velha. Envelhecer, eis aí um fato do qual não se pode fugir. Nosso olhar, nosso pensamento não mostra a idade, mas o corpo é soberano e não esconde nada...Muito estranha essa sensação. Percebi e não fui percebida. Olhei e não fui olhada...
Não me sinto, em nenhum minuto, envelhecida, mas me flagrei envelhecida. Não para mim, nem para os meus, mas para o mundo. As marcas permanecem e são autoritárias. Alguém, que apenas passa, não vai saber o que pode encontrar por baixo dessa armadura. Que pena! Quanto encantos e quantos afetos perdidos no meio da estrada..."