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domingo, 10 de agosto de 2008

Dia dos Pais

Dia dos Pais

Não tem sido fácil vivenciar essas datas festivas. As lembranças são muitas, a saudade é enorme e a expressão que não sai da cabeça é: “NUNCA MAIS’. Nunca mais aqueles domingos alegres, aqueles almoços em família , aquele vozerio todo, as crianças correndo para todo lado, as conversas interrompidas a toda hora, o cheiro da comida de mãe, da feijoada do meu sogro... Até as alfinetadas, disfarçadas, hoje são relembradas.
Dia desses fomos, eu e meu marido, à casa de uma amiga e o pais dela prepararam-nos um café e eu disse : não sabemos mais o que é tomar café de mãe. Sentamos à mesa, conversamos alegremente e me veio a certeza, irremediável, do “NUNCA MAIS”... Conversamos sobre isso no carro, na volta pra casa, ambos com o coração dolorido de saudade....
Quando perdi meu pai, eu tinha um filho de 2 anos e um bebê de 1 mês. E tinha mamãe, meu sogro e minha sogra. Senti muito a falta dele, mas a vida corria célere, não havia muito tempo pra chorar. Nem mamãe deixava. Estava sempre por perto. Ela me consolava quando eu lhe dizia, chorando, que havia sentido o cheiro dele, que tinha ouvido seus passos na escada, que o tinha ouvido chamar meu nome... Eu me lembro de um sonho em que ele aparecia numa praia linda, vestido de branco, cercado de crianças, caminhando, feliz, na água. Não me recordo, precisamente, de quanto tempo depois de sua morte eu sonhei. Mas me lembro de um bem-estar que me acompanhou depois disso. Papai era muito católico, rezava com freqüência e talvez tenha encontrado esta forma para me dizer que tudo estava bem.
Já viver sem minha mãe foi muito difícil. Meu filho caçula estava estudando fora da cidade e o outro saía cedo e chegava tarde, estudava veterinária, nessa época. Eu me senti muito sozinha, chorei durante muito tempo. A família - irmãos, cunhadas, sobrinhos - antes tão unida em redor dela, afastou-se. Cada um sentiu a dor à sua maneira. E eu, que poderia ter cuidado para que esse afastamento não acontecesse, estava tão fechada em minha dor, que não pensava na dos outros. E o vazio aumentava a cada dia, apesar dos esforços do marido ( também dolorido demais, porque ele e ela se adoravam) para me alegrar. Pra não morrer junto, mudei minha vida, comecei a me cuidar, emagreci, larguei o ateliê , fui fazer uma pós, depois outra, e mais outra, procurando sempre algo que suprisse aquela falta. Aos poucos a vida foi quase voltando ao normal, marido sempre fazendo de tudo para que eu me recuperasse, mas um buraco enorme ainda ficou. Queria tudo aquilo de volta, queria aquele convívio, mas nada mais seria como antes. Foi a primeira vez da sensação do “NUNCA MAIS”. Porque nada seria como antes, repito. O período de “luto”, demorado, deixou marcas , dores, culpas difíceis de serem sanadas. Poucos irmãos ficaram mais em contato (somos 9). Alguns eu revi poucas vezes. Aliás, acho que o mais velho eu nunca mais vi. Só nos falamos, raramente, por telefone. De quem é a culpa? Nossa mesmo. De cada um que pensou em si e não dividiu a dor. Justo nós , filhos de uma mulher que dividia com todos, da família e fora dela, o seu carinho, que transbordava de amor, que não negava um abraço e uma palavra amiga pra ninguém...
E, no ano passado, em três meses, eles também se foram. Primeiro minha sogra, depois meu sogro. Pessoas que nunca me deixaram sozinha, que partilharam comigo todas as minhas dores e todas as minhas alegrias. Que me deixavam doida, maluca, às vezes, com alguns comentários que faziam, mas que , depois, me faziam rir, porque eu sabia que eram apenas palavras e que o sentimento deles por mim era o mesmo que tinham pelos seus filhos. Como eu tenho saudade da minha sogra, dos aniversários aqui em casa, quando eles chegavam para o almoço, e dos comentários dela, que falava o que queria, sem pensar muito! Achava que as coisas não iam ficar prontas a tempo para a festa, à noite, que eu estava exagerando, isso e aquilo... Se eu fosse encrenqueira, teríamos tido brigas enormes, mas eu me divertia com o seu jeito . Rebatia o que achava que merecia e brincava com ela quando a coisa era muito doida. E o meu sogro me enlouquecia com o excesso de cuidado, de amor, de preocupação, heranças que deixou para o meu marido, meu Deus!!! Aí, de repente, nem ela e nem ele, “NUNCA MAIS”. Meu telefone ficou silencioso depois disso. Porque dividíamos tudo. Eles gostavam de contar as novidades, de pedir opiniões, de conversar apenas, quando não podíamos estar juntos fisicamente. E, como tudo na vida nos traz uma lição, estamos tentando ficar mais perto, para não repetir o erro em relação à minha família. Meu marido e os irmãos têm-se encontrado mais, se comunicado mais, todos estão se esforçando pra isso. Não é esforço no sentido de obrigação, mas esforço no sentido de manterem-se unidos para que o carinho nunca diminua. Nem a intimidade. E a saudade e a realidade tornem-se suportáveis.
E hoje, Dia dos Pais, depois que nossos filhos voltaram para suas casas, conversando com minha cunhada ao telefone, comentamos sobre o que é irremediável: aqueles dias não têm volta. A vida segue e temos de nos habituar a isso. Cultivar as lembranças, mas cuidando de quem está perto. Transformar essas datas em dias tão especiais aos que nos cercam que sejam motivo de boas lembranças no futuro.
Feliz Dia dos Pais!

3 comentários:

lili-gata disse...

Veronica,
Amei seus gatinhos lindos e arteiros, viu? Eu gosto de beber água é no copinho... Vou aguardar o vídeo do gumercindo. Lambeijokas pra você e pro Espoleta.

Anonymous disse...

É querida amiga, a vida é maravilhosa, mas também dói.
O bom mesmo é que convivemos e aprendemos muito com as nossas pessoas queridas. E é daí que se extraí o néctar do amor e da beleza da vida. E vamos continuar...
Beijo grande e parabéns pelo blog,
Rosane.

Aline Vachelli disse...

Oi Verônica! Obrigada pelas palavras!
O buraco da perda sempre fica né.. Os momentos felizes são os que nos confortam.
Fiquei muito emocionada com seu texto, espero de coração que essa sua dor já tenha passado e que tenha ficado apenas a saudade.
Um grande beijo