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domingo, 10 de maio de 2009

Dia das Mães de algum ano antes de 1999


Felicidade? É isso:

Acordávamos cedo. Filhos ainda dormiam e as visitas também (de vez em quando um dos irmãos dormia aqui com a família), mas nós tínhamos de agilizar tudo, pois os meninos (meus irmãos e suas famílias)não demorariam a chegar para comemorar o Dia das Mães com a mamãe, que morava bem aqui ao lado (eu tive o privilégio de tê-la morando pertinho de mim nos últimos anos de sua vida). A geladeira já estava cuidando das sobremesas, feitas na véspera. Neuza e Libinha ajudavam aqui e depois todas íamos ajudar a mamãe nos preparativos do almoço, que era sempre uma festa, enquanto os meninos.... (os adultos seriam sempre "os meninos") Sabe onde estavam? No barzinho da esquina papeando ou tomando cerveja, claro!!! Só vinham quando dizíamos que a comida estava pronta. E a comida? Lembra? Comida de mãe: arroz, feijão , frango cozido e depois colocado no forno, carne assada (hummmm...) alguma salada diferente , e o inimitável macarrão, delicioso, saudoso, desejado macarrão, feito com a borra da carne assada e massa de tomate, e que só ela conseguia deixar com aquele sabor. Ela, a D. Conceição, que corria pra lá e pra cá, sem saber se beijava os netos, se recebia os vizinhos, se ria com as filhas e noras, se abraçava os filhos, se mexia as panelas. E sempre rindo. De vez em quando ia ao espelho do banheiro e ajeitava o cabelo, porque sempre podia aparecer algum engraçadinho com a filmadora. (Ah, meu filho, não me filma não...) Abençoada filmadora, que agora traz seu sorriso de volta nos vários filmes que consegui recuperar. A falação era tanta... as conversas cruzadas, a televisão com som alto, os netos adolescentes gargalhando no quartinho (contando alguma peripécia, com certeza!), os pequenos correndo pra lá e pra cá, mas ninguém se importava. Aquele era o som da felicidade, da alegria, da vida que a gente conhecia e aproveitava tanto. Porque ela tinha o dom de nos proporcionar uma alegria tão intensa... Sua casa era o ninho, o coração, o abrigo, o aconchego, o lar mais desejado e festejado que podia haver. Luxo não tinha, a casa era pequena para abrigar tanta gente, mas o amor transbordava em cada canto!!! E nós sorvíamos tudo isso com avidez, mas sem imaginar que um dia acabaria. Muitas vezes, depois de toda essa festa, ela ficava de cama. Porque a sua perna inchada novamente dava trabalho. Mesmo no meio dos preparativos, ela já estava sentindo dores, mas não falava. Agüentava bravamente até o fim do dia. E desabava, depois que todos tivessem voltado para suas casas com a sensação de terem vivido um dos momentos mais felizes de sua vida. E talvez, no seu delírio de febre, imaginasse que aquele era o seu paraíso. Porque a vida para ela era isso: distribuir amor incondicionalmente, e boa comida...
Que saudade, mamãe. Se você, hoje, estivesse aqui, minha casa não teria o silêncio que tem agora. Eu não estaria me aprontando para almoçar em um restaurante qualquer e nem estaria aqui, com as lágrimas correndo, cheia de saudade daqueles dias tão felizes com a família toda reunida.
PS.: Meus filhos sabem, lendo aqui, que não estou triste , pelo contrário, como mãe, estou realizada e feliz. Um deles está aqui e o outro já ligou cedinho. Estou apenas saudosa, como filha e como nora, porque nunca mais terei dias como aqueles. Terei dias tão maravilhiosos quanto, mas não iguais, pq seremos todos diferentes. Só a lembrança e o amor que sentimos será igual. O tempo não volta, infelizmente. Mas essa saudade não me impede de curtir nossos momentos maravilhosos.

3 comentários:

Verônica Cobas disse...

Verônica,

Porque sentir saudade não é ruim. É lembrar com prazer, é reviver com os olhos bons do amor. O olhar da gente pode estar de fora, vendo um tempo entre o hoje e o ontem e no qual fomos felizes. E isso não quer dizer que não estejamos felizes hoje. Mas a mãe da gente e aquela harmonia ao seu redor serão sempre benções.Seus filhos também sentirão, se já não sentem, essa mesma sensação. Seu texto é lindo e suas lembranças também. bjs. Veronica

Agnaldo Sampaio Duque disse...

é minha tia, como era bom aqueles almoços em que se reunia a família toda, sinto saudades e ao ler as suas palavras me emocionei muito, pena que as famílias se afastaram e não mantivemos a tradição de nos unir-mos ao menos uma vez por ano, mas a vida é assim mesmo cada um tem seus afazeres e não tem tempo para visitar um parente, a vida fica corrida e cheia de compromissos, e quando nos lembramos dos fatos é que nos damos conta de como o tempo passou e não fizemos nada para que estes momentos retornem, espero um dia ainda poder ver todos os parentes reunidos para matar-mos a saudade e relembrar-mos os dias felizes que passamos ao lado de nossa querida vozinha. bjs Agnaldo.

Veronica Arteira disse...

Oi, Veronica, pensei muito entre tristeza e saudade e vi que a saudade não é triste, é apenas saudade de algo muito bom. E lembrar isso conforta, reconforta, aquece o coração. A vida segue, não podemos mudar muita coisa, mas o que vivemos de bom nos alimenta para sempre.

Agnaldo, meu sobrinho queridooooooo, que bom ver vc aqui. Era um tempomesmo muito bom, né? Lembra suas meninas pequenas, que delícia? Tenho isso filmado aqui. QQ hora dessas nos reuniremos novamente, com certeza. É sempre muito bom estar perto de quem nos ama de verdade.
Bjssssssssss em vc e nas suas mulheres..rs